terça-feira, 27 de novembro de 2012


NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

 Vejamos inicialmente o que é a Psicologia a partir de sua definição etimológica.

   (Etimológica: refere-se à etimologia (do grego antigo ετιµολογια, composto de ετιµο – origem (das palavras) + λογια - ”logia”), a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do seu significado por meio da análise dos elementos que a constituem. Em outros termos,é o estudo da composição dos vocábulos e das regras de sua evolução histórica). Ela se refere ao estudo da alma (psyche+logos=mente+ conhecimento). Durante muitos séculos a Psicologia foi pensada pelos filó-sofos como o saber acerca da alma. Tratar-se-ia de uma realidade metafísica, ou seja, uma realidade fora do alcance dos nossos sentidos, que não pode ser objeto de qualquer experiência ou vivência. Esta definição não parece plenamente satisfatória, pois a palavra “alma” tem significados muito diversos, contudo sempre se colocaram questões ao homem sobre si próprio e sobre o que popularmente se designa de alma. Todo o período anterior ao século 19 caracterizou-se por ser uma fase preponderantemente especulativa, em que a Psicologia era um campo acessível a filósofos, médicos e romancistas. Quando estudamos a Psicologia necessário se faz também que realizemos um breve percorrido em sua constituição indo às raízes primeiras, a Filosofia.Como as demais ciências, também a Psicologia surgiu a partir das necessidades culturais de entendimento do ser humano, buscando corresponder ao desejo do homem de compreender a si mesmo.Durante o percurso deste trabalho,será abordado um pouco da história da Psicologia na Grécia e Roma antigas e no Renascimento. Você entenderá como a Psicologia tornou-se ciência. Poderá fazer um breve percorrido pelas principais escolas psicológicas, tema aprofundado nas unidades posteriores, e finalmente as teorias psicológicas atuais.
   Os filósofos pré-socráticos preocupavam-se em definir a relação do homem com o mundo através da percepção. Discutiam se o mundo existe porque o homem o vê ou se o homem vê um mundo que já existe. Sócrates faz com que a Psicologia na Antiguidade ganhe consistência. Sua principal preocupação era com o limite que separa o homem dos animais. Dessa forma, percebia-se que a principal característica do homem era a razão, que permitia o homem se sobrepor aos instintos, que seriam a base da irracionalidade. Platão, discípulo de Sócrates, procurou definir um “lugar” para a razão no nosso próprio corpo, esse lugar seria a cabeça. A medula seria, portanto, o elemento, de ligação de alma com o corpo.   Aristóteles, discípulo de Platão, dizia que a alma e o corpo não podem ser dissociados. Para ele a alma seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua alma. Desta forma, os vegetais, os animais e o homem teriam alma.
No Império Romano, a psicologia era constantemente relacionada ao cristianismo, já que a Igreja Católica também monopolizava o saber e, consequentemente, o psiquismo.  Santo Agostinho, inspirado em Platão, fazia cisão entre alma e corpo. Mas, para ele, a alma não era apenas sede da razão mas a prova de uma manifestação divina no homem e imortal.  São Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, buscava a distinção entre essência e existência. Ele considerava que o homem busca a perfeição através de sua existência e somente Deus seria capaz de reunir a essência à existência , encontrava também argumentos racionais para continuar garantindo a Igreja o monopólio do estudo do psiquismo. Descartes, eminente filósofo, matemático e fisiológico, influenciou o desenvolvimento subsequente da psicologia através de sua teoria do dualismo psicofísico – a distinção entre mente e corpo – e de sua interpretação mecanicista do comportamento animal – o conceito de “animais sem mente”. Nos séculos XVIII e XIX a mente e seu funcionamento tornaram-se objeto de grande interesse para os filósofos. Duas escolas de pensamentos diferentes se desenvolveram, uma conhecida como empirismo inglês e a outra como racionalismo alemão. O empirismo acreditava que as percepções e ideias complexas fossem feitas de partes componentes mais simples ou elementos. Os racionalistas não admitiam a necessidade dessa abordagem analítica para o entendimento dos processos mentais, insistindo que a percepção de objetos são entidades por si mesmas, com qualidades características que seriam destruídas pela análise de seus componentes. O primeiro laboratório de psicologia experimental, foi criado na Universidade de Leipzig, na Alemanha, em 1879, por Wilhelm Wundt.  Quando a nova psicologia experimental ingressou no século XX já haviam surgido diversos sistemas, ou “escolas”, controversos. Estes sistemas teóricos rivais representaram uma transição da psicologia filosófica dos dois séculos anteriores a psicologia relativamente sofisticada dos dias atuais. A psicologia estruturalista deixou de existir como uma escola distinta a partir de 1930. Entretanto, psicólogos treinados na cuidadosa tradição experimental de Wundt e Titchener exerceram uma influência significativa sobre o desenvolvimento da psicologia como ciência.


Imagem de psychè e cupido, museu do Louvre






A Psicologia Entre os Gregos

Os primeiros dados histórico-filosófico-científicos da Psicologia estão na Grécia antiga. Desse período destacamos as concepções de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates viveu de 469 a 339 a.C, em Atenas. Seu postulado central era a razão como principal característica humana, e afirmava ser ela a possibilitar aos homens sobrepujar os instintos.
Imagem de Sócrates






Platão viveu de 427 a 347 a. C. e avança seu pensamento definindo a cabeça como o lugar da razão, enquanto a medula estabeleceria a ligação entre a alma e o corpo. Segundo ele, com a morte a matéria desaparecia e a alma teria liberdade para habitar outro corpo.

 Imagem de Platão






Aristóteles nasceu em 384 e morreu em 322 a.C. Estudou Medicina e História da Filosofia. Afirmava que a observação é a forma de explicação dos eventos naturais. Assegurava que a psychè é o princípio ativo da vida e que tudo que nasce, cresce e se alimenta possui então, alma. Até mesmo animais e vegetais, que possuiriam alma vegetativa. Os animais teriam essa mesma alma acrescida de uma sensitiva. No homem, encontraríamos além destas a alma racional, que lhe daria a função de pensar. Ele dissocia alma e corpo.
Como podemos perceber, muito tempo antes da ciência psicológica os gregos já haviam formulado teorias sobre o homem: a teoria de Platão, que postulava a imortalidade da alma, separada do corpo, e a de Aristóteles, que definia a alma em sua relação com o corpo.

Imagem de Aristóteles






A Psicologia na Roma Antiga

No Império Romano a Psicologia liga-se à religião na medida em que essa época se caracteriza pelo surgimento e desenvolvimento do cristianismo. A religião assume o status de ciência. Destacamos Santo Agostinho, que viveu de 354 a 430 a. C. e São Tomás de Aquino, que viveu bem mais tarde, entre 1225 e 1274 d. C.



Imagem de Santo Agostinho


   Santo Agostinho comunga das ideias de Platão, acreditando que a alma encontra-se separada do corpo. Ela é a manifestação de Deus no homem, o que permite que este se torne imortal. Por considerar a alma o lugar do pensamento, a Igreja quer compreendê-la. Na alma existiriam três faculdades: a memória, a inteligência e a vontade, sendo esta a mais importante pelo fato de participar dos atos do espírito e tornar-se o centro da personalidade no homem. São Tomás de Aquino viveu no período de transição e ruptura da Igreja Católica. Surge, então, o protestantismo. A partir dessa crise a Igreja passa a se perguntar acerca dos conhecimentos que vem produzindo.
   A visão de Tomás de Aquino sobre o ser humano é de que os seres vivos seriam agentes e pacientes de suas ações. Para ele, a alma é anterior ao corpo e o anima, lhe dá vida. A alma é constituinte do ser. Ele inspira-se em Aristóteles e estabelece distinção entre essência e existência e lhe dá caráter religioso. Deus seria, então, o caminho para unir essas duas qualidades, por meio da procura da perfeição, que se daria pela busca de Deus. Segundo Bock, ele “encontra argumentos racionais para justificar os dogmas da Igreja (...) garantindo para ela o monopólio do estudo do psiquismo” (1999, p. 35). Estudava-se ainda o comportamento do homem em relação à questão da educação na Academia de Platão, no Liceu de Aristóteles e no Museu de Alexandria.





A Psicologia como Ciência
  
   A partir do século 19, a ciência passa a se tornar a forma por excelência de conhecimento, sendo convocada a explicar as inovações surgidas. A Psicologia, como campo de conhecimento, transforma-se, cresce e avança vertiginosamente. Isso faz com que ocorra um distanciamento da Filosofia, embora sem negar a importância fundamental do pensamento filosófico no estudo do homem, porém necessário se fazia a produção do conhecimento do campo específico, a partir das possibilidades de comprovação que a ciência aponta. O objetivo primeiro passa a ser a definição de um objeto de estudo para a Psicologia, seu campo de investigação e seus métodos, o que permitirá a construção de teorias consistentes para o conhecimento do homem. Os temas e problemas da Psicologia passam a ser estudados pela Medicina, pela Fisiologia e Neurofisiologia, Neuroanatomia e Psicofísica, com foco no sistema nervoso central. Segundo Bock, “para conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender os mecanismos e o funcionamento da máquina de pensar do homem – seu cérebro” (1999, p. 39). Em torno de 1850, Fechner e Weber formulam uma lei que passou a ser conhecida como “lei de Fechner-Weber”   e que consiste na relação entre um estímulo e uma sensação, permitindo com isso sua mensuração. Grande contribuição ao avanço da Psicologia, como ciência também, é o trabalho de Wilhelm Wundt (1832-1926), com a criação do laboratório de Psicofisiologia, na Universidade de Leipzig (Alemanha), em 1879. Em virtude de seus estudos ele foi considerado o “pai” da Psicologia Científica. Ele define a Psicologia como uma ciência da consciência e desenvolve estudos sobre o “paralelismo psicofísico”, que consiste no entendimento de que fenômenos mentais/psíquicos correspondem a fenômenos orgânicos. Seu método  é denominado de método introspectivo . Por intermédio dos estudos que passam a se tornar mais aprofundados, define-se o objeto de estudo da Psicologia como sendo o comportamento, a consciência e a vida psíquica. O campo de estudos é, então, delimitado. Novos métodos passam a ser elaborados ao mesmo tempo que novas teorias são formuladas, o que permite o avanço e o estabelecimento definitivo da Psicologia. Fundam-se escolas psicológicas, que serão apresentadas a seguir, sucintamente.





Teorias Atuais


Destacamos a seguir as principais teorias psicológicas do século 20:

a) A Psicanálise: Esta teoria foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939). É um método de investigação cujo objeto principal é o “inconsciente”, sendo também a denominação dada ao tratamento ou prática clínica, subsidiada pela teoria e pela investigação.

b) O Behaviorismo: Seu fundador foi John Watson (1878-1958). Ele afirmava que o comportamento é o objeto de estudo da ciência psicológica e o qualifica como observável e mensurável, o que permitiria experimentos em situações diversas, mantendo sempre o caráter de objetividade científica acerca do objeto de estudo.

c) A Gestalt: é um termo alemão de difícil tradução. Em português essa teoria é denominada de teoria da “forma ou configuração”. Seus fundadores foram Kurt Koffka (1886-1941) e Max Wertheimer (1880-1943). Além da Psicanálise e do Behaviorismo estudaremos ainda a Epistemologia Genética, fundada pelo suíço Jean Piaget (1896-1980), e as idéias de Lev S. Vygostsky (1896-1934). Essas últimas são teorias que passaram a ser mais bem conhecidas e estudadas no Brasil a partir da década de 80.

















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