NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Vejamos
inicialmente o que é a Psicologia a partir de sua definição etimológica.
(Etimológica: refere-se à etimologia (do grego antigo ετιµολογια, composto
de ετιµο – origem (das palavras) + λογια - ”logia”), a parte da gramática que
trata da história ou origem das palavras e da explicação do seu significado por
meio da análise dos elementos que a constituem. Em outros termos,é o estudo da
composição dos vocábulos e das regras de sua evolução histórica). Ela se refere ao estudo da
alma (psyche+logos=mente+ conhecimento). Durante muitos séculos a Psicologia
foi pensada pelos filó-sofos como o saber acerca da alma. Tratar-se-ia de uma
realidade metafísica, ou seja, uma realidade fora do alcance dos nossos
sentidos, que não pode ser objeto de qualquer experiência ou vivência. Esta
definição não parece plenamente satisfatória, pois a palavra “alma” tem
significados muito diversos, contudo sempre se colocaram questões ao homem
sobre si próprio e sobre o que popularmente se designa de alma. Todo o período
anterior ao século 19 caracterizou-se por ser uma fase preponderantemente
especulativa, em que a Psicologia era um campo acessível a filósofos, médicos e
romancistas. Quando estudamos a Psicologia necessário se faz também que
realizemos um breve percorrido em sua constituição indo às raízes primeiras, a
Filosofia.Como as demais ciências, também a Psicologia surgiu a partir das
necessidades culturais de entendimento do ser humano, buscando corresponder ao
desejo do homem de compreender a si mesmo.Durante o percurso deste trabalho,será abordado um pouco
da história da Psicologia na Grécia e Roma antigas e no Renascimento. Você
entenderá como a Psicologia tornou-se ciência. Poderá fazer um breve percorrido
pelas principais escolas psicológicas, tema aprofundado nas unidades
posteriores, e finalmente as teorias psicológicas atuais.
Os filósofos pré-socráticos
preocupavam-se em definir a relação do homem com o mundo através da percepção.
Discutiam se o mundo existe porque o homem o vê ou se o homem vê um mundo que
já existe. Sócrates faz com que a Psicologia na Antiguidade ganhe consistência.
Sua principal preocupação era com o limite que separa o homem dos animais.
Dessa forma, percebia-se que a principal característica do homem era a razão,
que permitia o homem se sobrepor aos instintos, que seriam a base da
irracionalidade. Platão, discípulo de Sócrates, procurou definir um “lugar”
para a razão no nosso próprio corpo, esse lugar seria a cabeça. A medula seria,
portanto, o elemento, de ligação de alma com o corpo. Aristóteles, discípulo de Platão, dizia que a
alma e o corpo não podem ser dissociados. Para ele a alma seria o princípio
ativo da vida. Tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua
alma. Desta forma, os vegetais, os animais e o homem teriam alma.
No Império Romano, a
psicologia era constantemente relacionada ao cristianismo, já que a Igreja
Católica também monopolizava o saber e, consequentemente, o psiquismo. Santo Agostinho, inspirado em Platão, fazia
cisão entre alma e corpo. Mas, para ele, a alma não era apenas sede da razão
mas a prova de uma manifestação divina no homem e imortal. São Tomás de Aquino, inspirado em
Aristóteles, buscava a distinção entre essência e existência. Ele considerava
que o homem busca a perfeição através de sua existência e somente Deus seria
capaz de reunir a essência à existência , encontrava também argumentos
racionais para continuar garantindo a Igreja o monopólio do estudo do
psiquismo. Descartes, eminente filósofo, matemático e fisiológico, influenciou
o desenvolvimento subsequente da psicologia através de sua teoria do dualismo
psicofísico – a distinção entre mente e corpo – e de sua interpretação
mecanicista do comportamento animal – o conceito de “animais sem mente”. Nos
séculos XVIII e XIX a mente e seu funcionamento tornaram-se objeto de grande
interesse para os filósofos. Duas escolas de pensamentos diferentes se
desenvolveram, uma conhecida como empirismo inglês e a outra como racionalismo
alemão. O empirismo acreditava que as percepções e ideias complexas fossem
feitas de partes componentes mais simples ou elementos. Os racionalistas não
admitiam a necessidade dessa abordagem analítica para o entendimento dos
processos mentais, insistindo que a percepção de objetos são entidades por si
mesmas, com qualidades características que seriam destruídas pela análise de
seus componentes. O primeiro laboratório de psicologia experimental, foi criado
na Universidade de Leipzig, na Alemanha, em 1879, por Wilhelm Wundt. Quando a nova psicologia experimental
ingressou no século XX já haviam surgido diversos sistemas, ou “escolas”,
controversos. Estes sistemas teóricos rivais representaram uma transição da
psicologia filosófica dos dois séculos anteriores a psicologia relativamente
sofisticada dos dias atuais. A psicologia estruturalista
deixou de existir como uma escola distinta a partir de 1930. Entretanto,
psicólogos treinados na cuidadosa tradição experimental de Wundt e Titchener
exerceram uma influência significativa sobre o desenvolvimento da psicologia
como ciência.
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de psychè e cupido, museu do Louvre
A Psicologia Entre os Gregos
Os primeiros dados
histórico-filosófico-científicos da Psicologia estão na Grécia antiga. Desse período
destacamos as concepções de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates
viveu de 469 a 339 a.C, em Atenas. Seu postulado central era a razão como
principal característica humana, e afirmava ser ela a possibilitar aos homens
sobrepujar os instintos.
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de Sócrates
Platão
viveu de 427 a 347 a. C. e avança seu pensamento definindo a cabeça como o
lugar da razão, enquanto a medula estabeleceria a ligação entre a alma e o
corpo. Segundo ele, com a morte a matéria desaparecia e a alma teria liberdade
para habitar outro corpo.
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de Platão
Aristóteles nasceu em 384 e morreu em 322 a.C. Estudou Medicina e História da Filosofia. Afirmava que a observação é a forma de explicação dos eventos naturais. Assegurava que a psychè é o princípio ativo da vida e que tudo que nasce, cresce e se alimenta possui então, alma. Até mesmo animais e vegetais, que possuiriam alma vegetativa. Os animais teriam essa mesma alma acrescida de uma sensitiva. No homem, encontraríamos além destas a alma racional, que lhe daria a função de pensar. Ele dissocia alma e corpo.
Como podemos perceber, muito
tempo antes da ciência psicológica os gregos já haviam formulado teorias sobre
o homem: a teoria de Platão, que postulava a imortalidade da alma, separada do
corpo, e a de Aristóteles, que definia a alma em sua relação com o corpo.
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de Aristóteles
A Psicologia na Roma Antiga
No Império Romano a
Psicologia liga-se à religião na medida em que essa época se caracteriza pelo
surgimento e desenvolvimento do cristianismo. A religião assume o status de
ciência. Destacamos Santo Agostinho, que viveu de 354 a 430 a. C. e São Tomás
de Aquino, que viveu bem mais tarde, entre 1225 e 1274 d. C.
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de Santo Agostinho
Santo Agostinho comunga das ideias
de Platão, acreditando que a alma encontra-se separada do corpo. Ela é a
manifestação de Deus no homem, o que permite que este se torne imortal. Por
considerar a alma o lugar do pensamento, a Igreja quer compreendê-la. Na alma
existiriam três faculdades: a memória, a inteligência e a vontade, sendo esta a
mais importante pelo fato de participar dos atos do espírito e tornar-se o
centro da personalidade no homem. São Tomás de Aquino viveu no período de
transição e ruptura da Igreja Católica. Surge, então, o protestantismo. A
partir dessa crise a Igreja passa a se perguntar acerca dos conhecimentos que
vem produzindo.
A visão de Tomás de Aquino
sobre o ser humano é de que os seres vivos seriam agentes e pacientes de suas
ações. Para ele, a alma é anterior ao corpo e o anima, lhe dá vida. A alma é
constituinte do ser. Ele inspira-se em Aristóteles e estabelece distinção entre
essência e existência e lhe dá caráter religioso. Deus seria, então, o caminho
para unir essas duas qualidades, por meio da procura da perfeição, que se daria
pela busca de Deus. Segundo Bock, ele “encontra argumentos racionais para
justificar os dogmas da Igreja (...) garantindo para ela o monopólio do estudo
do psiquismo” (1999, p. 35). Estudava-se ainda o comportamento do homem em relação
à questão da educação na Academia de Platão, no Liceu de Aristóteles e no Museu
de Alexandria.
A Psicologia como Ciência
A partir do século 19, a
ciência passa a se tornar a forma por excelência de conhecimento, sendo
convocada a explicar as inovações surgidas. A Psicologia, como campo de
conhecimento, transforma-se, cresce e avança vertiginosamente. Isso faz com que
ocorra um distanciamento da Filosofia, embora sem negar a importância
fundamental do pensamento filosófico no estudo do homem, porém necessário se
fazia a produção do conhecimento do campo específico, a partir das
possibilidades de comprovação que a ciência aponta. O objetivo primeiro passa a
ser a definição de um objeto de estudo para a Psicologia, seu campo de
investigação e seus métodos, o que permitirá a construção de teorias
consistentes para o conhecimento do homem. Os temas e problemas da Psicologia
passam a ser estudados pela Medicina, pela Fisiologia e Neurofisiologia,
Neuroanatomia e Psicofísica, com foco no sistema nervoso central. Segundo Bock,
“para conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender os
mecanismos e o funcionamento da máquina de pensar do homem – seu cérebro”
(1999, p. 39). Em torno de 1850, Fechner e Weber formulam uma lei que passou a
ser conhecida como “lei de Fechner-Weber” e que
consiste na relação entre um estímulo e uma sensação, permitindo com isso sua
mensuração. Grande contribuição ao avanço da Psicologia, como ciência também, é
o trabalho de Wilhelm Wundt (1832-1926), com a criação do laboratório de
Psicofisiologia, na Universidade de Leipzig (Alemanha), em 1879. Em virtude de
seus estudos ele foi considerado o “pai” da Psicologia Científica. Ele define a
Psicologia como uma ciência da consciência e desenvolve estudos sobre o “paralelismo
psicofísico”, que consiste no entendimento de que fenômenos mentais/psíquicos
correspondem a fenômenos orgânicos. Seu método
é denominado de método introspectivo . Por intermédio dos estudos que
passam a se tornar mais aprofundados, define-se o objeto de estudo da
Psicologia como sendo o comportamento, a consciência e a vida psíquica. O campo
de estudos é, então, delimitado. Novos métodos passam a ser elaborados ao mesmo
tempo que novas teorias são formuladas, o que permite o avanço e o estabelecimento
definitivo da Psicologia. Fundam-se escolas psicológicas, que serão
apresentadas a seguir, sucintamente.
Teorias Atuais
Destacamos a seguir as
principais teorias psicológicas do século 20:
a) A Psicanálise: Esta
teoria foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939). É um método de
investigação cujo objeto principal é o “inconsciente”, sendo também a
denominação dada ao tratamento ou prática clínica, subsidiada pela teoria e
pela investigação.
b) O Behaviorismo: Seu
fundador foi John Watson (1878-1958). Ele afirmava que o comportamento é o
objeto de estudo da ciência psicológica e o qualifica como observável e
mensurável, o que permitiria experimentos em situações diversas, mantendo
sempre o caráter de objetividade científica acerca do objeto de estudo.
c) A Gestalt: é um termo
alemão de difícil tradução. Em português essa teoria é denominada de teoria da
“forma ou configuração”. Seus fundadores foram Kurt Koffka (1886-1941) e Max
Wertheimer (1880-1943). Além da Psicanálise e do Behaviorismo estudaremos ainda
a Epistemologia Genética, fundada pelo suíço Jean Piaget (1896-1980), e as
idéias de Lev S. Vygostsky (1896-1934). Essas últimas são teorias que passaram
a ser mais bem conhecidas e estudadas no Brasil a partir da década de 80.
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